Notícias -Mercado

Ford, presença secular no Brasil

De acordo com o comunicado da empresa, a produção dos veículos na América do Sul ficará centrada na Argentina, dentro de uma reestruturação da companhia em todo o mercado mundial.

Ford, presença secular no Brasil


Desde 1919, a Ford esteve presente com a montagem de veículos no nosso mercado. Agora, ao passar por reestruturação global, a montadora anuncia o fechamento de suas três fábricas no País




A história da Ford no Brasil coincide com a história do automóvel em nosso País. Podemos ir até mais longe, pois a montadora de Detroit chegou ao nosso mercado ao mesmo tempo em que o automóvel estava se tornando popular em todo mundo ocidental.

Em 1896, Henry Ford aos 30 anos produziu na cozinha da casa dele o primeiro motor a combustão interna de apenas um cilindro. Ali surgia a semente daquela que seria uma das maiores fábricas de veículos do Planeta. O futuro industrial já trabalhava em uma fábrica de vagões de trens e à noite também defendia algum dinheiro consertando relógios. O contato com engrenagens e com chapas de metal levou Henry Ford a partir para voos mais altos e chegou à conclusão que poderia produzir um automóvel a partir do momento em que ele construiu um quadriciclo equipado com rodas de bicicleta e um pequeno motor a combustão.


Fordismo


Com o apoio de alguns industriais e políticos, dentre eles o inventor da lâmpada elétrica Thomas Alva Edison, de quem se tornara colaborador, Ford passou a fabricar alguns protótipos de automóveis. Mas logo viu que o processo não tinha boa produtividade e chegou à conclusão que a produção deveria ser padronizada e sequencial, com cada colaborador executando apenas uma das etapas na construção dos carros. Surgia assim o Fordismo, filosofia de trabalho que revolucionou os meios produtivos de toda a indústria de manufaturas da época.

Henry Ford se notabilizou ao apresentar o Modelo A, um carro extremamente robusto e confiável. 

Logo, o produto da Ford se tornou tão popular nos EUA que outros horizontes foram se abrindo para a marca. Empreendedor, Henry Ford buscou outros mercados para levar carros, principalmente o da Europa e o da América Latina. No Brasil, os primeiros veículos deste modelo chegaram por volta de 1904, através de representantes importadores com sede na cidade de São Paulo. Mas a importação do carro já montado era dispendiosa e exigia maior espaço para serem acomodados nos navios da época. 


Carro em ‘pedaço’


Buscando uma solução para esse problema de logística, a indústria automotiva da época partiu para o envio de kits de partes dos carros (CKD, ou Complete Knock-Down, em inglês) e que seriam montadas no país de origem. Surgia, assim, a expressão montadora, que prevalece até os dias atuais. A Argentina foi o primeiro país da América do Sul a receber uma montadora e passou a produzir o famoso Modelo T, também conhecido por Fordinho, ou Ford Bigode, já que havia um conjunto de comandos na coluna de direção que se assemelhavam a um vasto bigode.

O Fordinho e o caminhão Modelo TT, já fabricados nos EUA desde 1908, foram os escolhidos para serem montados no Brasil e, assim, surgia em São Paulo a primeira montadora Ford no Brasil, inaugurada em 1º de maio de 1919. A empresa gastou US$ 25 mil com a construção de suas instalações brasileiras.


Fordilândia


Depois de passar por um rinque de patinação abandonado na Praça da República, a Ford muda em 1920 para um edifício próprio, na Rua Solon, 809, no bairro do Bom Retiro, construído para abrigar a primeira linha de montagem de veículos em série do Brasil. Cópia da sede da empresa em Detroit, o prédio de três andares tinha capacidade para produzir 4.700 automóveis e 360 tratores por ano.

Em 1928, Henry Ford esteve no Brasil para o lançamento do novo Modelo A, cheio de inovações tecnológicas e também para uma ação inédita na Amazônia: Henry Ford criou a Fordlândia, uma vila tipicamente americana com 10.000 km2 no meio da selva no Pará, com 1,9 milhão de seringueiras para a produção de borracha. O objetivo era não depender das fontes do Oriente para a fabricação de pneus. Mas uma epidemia devastou os seringais e o projeto foi abandonado em 1933.


Crise de 1929


Com a ‘quebra’ da Bolsa de Nova Iorque em 1929, surgiu a Grande Depressão, quando a economia mundial entrou em crise. A Ford brasileira sentiu os efeitos desta crise e passou a importar mais modelos da marca de origem europeia e norte-americana. Surgia também o poderoso motor V8, que tanto sucesso faz até os dias atuais. 

O Ford Anglia, o Modelo Y e o Prefect, produzidos na Inglaterra, e o Ford Eifel, montado na Alemanha, foram alguns modelos importados pelo Brasil da Ford Europa nessa época, além do Ford V8, cujas peças vinham dos EUA. O Mercury foi lançado em 1938 e no Brasil, o carro era oferecido somente por encomenda. 

A Segunda Grande Guerra fez com que a montadora passasse a produzir veículos para o Exército e, com a crise da gasolina, a Ford apresentava seus modelos brasileiros com o famoso gasogênio, uma ‘mini usina’ de combustível instalada na traseira do carro, que funcionava com carvão vegetal.

O Ford 1949 foi o primeiro grande lançamento da Ford na era do pós-guerra, com um novo estilo de design que influenciou a indústria, além de vários aprimoramentos no chassi, eixo cardã e suspensão.


Nacionalização


Em 1953, a Ford inaugura a fábrica do bairro Ipiranga, em São Paulo, já contando com 2.500 empregados. Já em 1958 surge a linha F da montadora, com produção nacional de grande parte das peças. Eram o caminhão F600, o F350 para 4 toneladas e a picape F100. Em 1964, a Ford comemorou a produção de 100.000 veículos no País, com um caminhão F600 e o índice de nacionalização dos carros já chegava a 99%.

O Ford Galaxie, primeiro carro nacional de luxo, chegou em 1967, com motor V8, direção hidráulica e outros itens inéditos. Grande, sofisticado e bonito, se tornou objeto de desejo. E muitos o consideram até hoje o sedã mais confortável já feito no Brasil. A Ford adquiriu o controle da Willys Overland do Brasil e ampliou suas operações no País. 

A Willys tinha uma parceria com a Renault e deixou pronto para a Ford um pequeno sedã com motor 1.4 litro de quatro cilindros que tanto sucesso fez: o Corcel e a perua derivada dele, a Belina, além da picape Pampa. Já em 1973, o Maverick chegou ao Brasil e virou sonho de consumo dos jovens da época. Oferecido inicialmente apenas na configuração cupê, com motor 3.0 de seis cilindros em linha e V8 5.0, depois ganhou as versões GT, de produção limitada, e sedã de quatro portas. 

Em 1974, a nova Fábrica de Motores e Fundição de Taubaté (SP) foi inaugurada e em 1978 o Campo de Provas de Tatuí (SP) se tornou o mais moderno da América do Sul. E, para fechar a década, em 1979 surge a nova F1000 equipada com motor diesel e com capacidade de carga para 1 tonelada.


Globalização


Já nos anos 80, surgem o Escort, semelhante ao modelo vendido na Europa.

Em 1987, surge a joint-venture Autolatina entre a Ford e a Volkswagen, com veículos de uma marca utilizando motores da outra. O resultado não foi bem o esperado e a parceria se desfez. 

Nos anos 90, com a globalização da economia e com a abertura do mercado brasileiro às importações automotivas, a Ford trouxe o Explorer, o Taurus, o Mondeo e a picape Ranger, que mais tarde passou a ser produzida no Brasil.

O Fiesta e o Ford Ka passaram a integrar o portfólio dos carros fabricados pela Ford em nosso mercado, principalmente com a inauguração da fábrica de Camaçari, na Bahia, em 2001.

O EcoSport surge em 2003, se transformando no primeiro utilitário esportivo compacto brasileiro, inaugurando uma nova tendência no mercado. 

Nos últimos anos, a geração global da Ford deu ‘cara’ nova a todos os carros produzidos pela marca, seguindo uma tendência única de design.

Dentre os importados, o Mustang ainda continua sendo um ícone quando se fala em ‘muscle car’ e tem um público cativo em todo o mundo.


Fim de um ciclo


Agora, ao chegar praticamente há 102 anos, a Ford anuncia que irá fechar as fábricas de Camaçari e Taubaté, além da planta na cidade cearense de Horizonte, unidade adquirida pela montadora ao encampar a marca Troller.

Como consolo, a Ford informa que deixará no Brasil a sede administrativa da empresa para a América do Sul, o Centro de Desenvolvimento de Projetos e o Centro de Treinamento de Tatuí. 

De acordo com o comunicado da empresa, a produção dos veículos na América do Sul ficará centrada na Argentina, dentro de uma reestruturação da companhia em todo o mercado mundial.

Com o encerramento das atividades produtivas das fábricas da Ford no Brasil, chega-se ao fim de uma longa e vitoriosa história no mercado nacional de veículos. Ciclo terminado.#





Comentários



Receba Grátis o Jornal WSN

Receba semanalmente no seu e-mail, um jornal 100% automotivo com noticiário completos e cheio de ofertas de veículos novos e seminovos.