Efeito dominó. A
metáfora perfeita para entender o que vem acontecendo no ramo automotivo com os
reflexos da pandemia. As lacunas no suprimento de componentes para a fabricação
de carros novos, que acontece em escala global, e o encurtamento da demanda no
mercado interno, além das medidas restritivas quanto ao coronavírus, resultaram
no fechamento total ou parcial de 13 entre as 23 montadoras de automóveis
sediadas no Brasil, conforme balanço da Associação Nacional dos Fabricantes de
Veículos Automotores (Anfavea). São 29 fábricas paradas em um conjunto de 58.
Em 19 de março, a Volkswagen anunciou a
paralisação da produção por aqui, alegando a preservação da saúde de empregados
e familiares. "E aí a bola de neve foi só aumentando. Na sequência, Volvo
e GM, mesmo que não tenham parado completamente, também divulgaram redução na
fabricação nacional de carros, e atribuíram a decisão à falta de peças,
principalmente semicondutores e chips", diz o diretor comercial da
AutoMAIA Veículos e diretor de marketing e planejamento
da Associação dos Revendedores de Veículos no Estado de Minas Gerais
(ASSOVEMG), Flávio Maia.
Menor produção
Em levantamento
em 30 de março, a Anfavea constatou a parada de Mercedes, Renault, Scania,
Toyota, Volkswagen, Volkswagen Caminhões e Ônibus, BMW, Agrale, Honda, Jaguar,
Nissan, GM e Volvo. A perspectiva entre as montadoras, até então, é de começar
a voltar em abril, até o final de maio. Com essa interrupção na produção,
algumas montadoras estão pedindo de 90 a 150 dias para a entrega de alguns
modelos.
São os motivos principais para a crise: escassez
de peças e problemas de fornecimento, essencialmente de semicondutores e chips,
além da pandemia. Dados da Anfavea mostram que a produção de carros zero
quilômetro no país caiu quase 32% em 2020.
Empresários estão
nas mãos da pandemia, por assim dizer. A projeção é que até 300 mil veículos
podem acabar não sendo produzidos no Brasil em 2021.
A indústria
automotiva emprega hoje, de forma direta, entre 100 mil e 110 mil pessoas, e em
torno de 70% desse quantitativo estão em casa de braços cruzados.
E a dúvida que
paira no ar é: depois dessas paralisações e, na esteira da Ford, outras
montadoras podem deixar de vez o país? "É uma situação que deve ser
considerada, mas não tão provável no curto e médio prazo. A decisão da Ford foi
bem específica e estratégica. Porém, com o recrudescimento do mercado e da
demanda, o risco de uma empresa sair do país sempre existe", pondera
Flávio Maia.
Usados e
seminovos
Considerando esse
cenário complicado, e enquanto os preços dos modelos zero quilômetro continuam
subindo (algumas montadoras passaram por uma escalada de preço de mais de 30%
nos últimos 12 meses), usados e seminovos seguem entre as preferências dos
consumidores. "Mesmo quem optar por um carro novo vai acabar se deparando
com a falta de produto nas lojas, e pode ter que aguardar até 150 dias",
diz Flávio Maia.
Sobre os
resultados de março, balanço da Federação Nacional das Associações dos
Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), que representa o setor de
lojistas multimarcas de veículos seminovos e usados, dá conta de que, apesar do
resultado ter sido positivo em 4,1%, em relação ao mês de fevereiro, já é
possível perceber o efeito do agravamento da pandemia, condições que, se
persistirem, podem ocasionar mais quedas sequenciais nas vendas das próximas semanas.
Segundo a
Fenauto, em março foram comercializadas 1.237.030 unidades, contra 1.188.275 no
mês anterior. O total acumulado em 2021, de 3.587.362 veículos, já está 14,1%
maior do que o mesmo período de 2020 (quando foram registradas 3.143.699
vendas).
Cautela em BH
Uma constatação
positiva é que o brasileiro continua interessado em comprar carro, mesmo com as
dificuldades financeiras impostas pela pandemia.
Em Belo
Horizonte, no entanto, o momento é de cautela. Como acontece na maioria das
cidades brasileiras, as medidas restritivas rigorosas para frear a disseminação
do coronavírus impactam no setor, assim como na economia de uma forma geral -
ainda que, por outro lado, a redução da oferta de veículos novos possa manter a
procura por usados e seminovos aquecida.
A menor
disponibilidade de seminovos e usados para recompor os estoques nas revendas
(justamente diante da demanda elevada) é outro fator que poderá ocasionar uma
oscilação nos negócios.#